segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Diálogos #8

Desejos são riscos rebuscados pelo ego de nossos cérebros, e tudo a mais que se sabe sobre isso é que o cérebro humano, em sua maior parte, é uma incógnita. Diversas pesquisas conseguiram, ao longo do tempo, detalhar o funcionamento de cerca de dez por cento ‘dessa massa cinzenta ambiciosa’, mas isso é muito pouco. Imagine que você conheça apenas um décimo de algum tipo de coisa que carregue e, que por mais familiar que lhe seja tal artefato; é possível confiar plenamente em algo que não é (nem de perto) qualificado, com um selo fictício de ‘ok’, enfim, apto a ser conhecido cem por cento e também a estar disposto a esquecer que existe essa tal de ‘totalidade’ – já que o assunto principal desse diálogo é o ‘desejo’. Mas, ainda falando em cérebros, paradoxalmente, é impressionante o que podemos fazer com cerca de dez por cento da capacidade ‘dessa coisa’ que não se demonstra totalmente eficaz: matar, amar, escrever, julgar, pintar... Claro que, na maioria das vezes, estamos tomados por nossos instintos; mas de onde mesmo eles vêm? Ah... Noventa por cento cruéis!
Mas e quanto aos nossos desejos? Será que eles pertencem à parte do cérebro que é conhecida, ou são meras eventualidades instintivas do abismo desconhecido de nossa massa cinzenta que os regurgita até o conhecido – trazendo consigo diversas outras sensações como suvenir: negação, desgosto, paixão, impulso, insônia, ansiedade... -? O problema em qualificar os desejos como pertencentes à categoria do desconhecido ou conhecido se dão pelo fato de que, justamente, eles esbarrem e se misturem aos sentimentos que trazem consigo.

- Eu te quero! –Disse ele.
- Por quê? –Disse ela
- Não sei... Deu uma vontade louca agora... Preciso de você, e já! –Disse ele.
- Não é bem assim que as coisas são, querido. Você sabe disso. E, sinceramente, não estou entendo esta sua atividade súbita. Gostaria de explicações! – Disse ela.
- Depois eu tento explicar... Vem aqui pertinho, tem o suficiente para nós dois. – Disse ele.

Algo não comentado anteriormente é que, logicamente, nem todos os desejos são atendidos – se não, provavelmente, boa parte dos líderes políticos já haveria dominado o globo (se bem que essa forma de expressão cerebral pensada previamente não deve ser definida como desejo). A maioria deles não é devido ao primeiro suvenir: ‘a negação’; todos interpretam suas vontades de maneira diferente, alguns com mais e outros com menos pudor – característica da personalidade (persona). Mas, deve-se salientar que grande parte dos desejos que não são realizados (e isso não incluí apenas o exemplo do sexo *- se quiserem mais exemplos, me perguntem por email ou por telefone -*), simplesmente não acontece porque há outra (ou outras) ‘persona’ (personas) em cena que é (são) necessária (necessárias) – interessante denominar isso de: ‘dependência ocasional’ ou, ‘insuficiência de metáforas’ ou, simplesmente, ‘ser não convincente’.

Enfim, voltando ao diálogo:
- Não vou atender ao seu desejo sem uma explicação! – disse ela.
- Desejos precisam de explicação? – disse ele.
Ela preferiu não responder. Nem tomou a atitude que ele queria (que era se jogar loucamente nos braços dele). Ao invés do sexo, ele, pegou o desejo inquietante (acompanhado pelos suvenires do desgosto, da insônia e da ansiedade), colocou o roupão e foi até a cozinha. Ligou a cafeteira. Passaram-se alguns minutos e, ‘oh’: café. Depois de algumas xícaras e alguns momentos pensando consigo mesmo se valia a pena tentar novamente; ‘talvez se utilizando de outra abordagem’; ‘mais romântico’: ‘vou comprar um bom vinho e algumas flores’... Ele desistiu, se dando por vencido (negação). Colocou a xícara na lava-louças e, em seguida, caminhou até o quarto, onde ela dormia com a paz de um anjo ao mesmo tempo em que roncava feito um barco a motor. Foi nesse dia (noite) em que ele descobriu que precisava de pílulas para dormir e começou a pensar em sua homossexualidade.

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