segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Diálogos #7

Não há nada de errado com o planeta que habitamos. Na verdade, há apenas um pequeno detalhe passando despercebido; mudando toda e qualquer questão acerca de eventualidades climáticas ou quaisquer outras bobagens onde o cerne da discussão esteja envolto em sustentabilidade – enquanto a maioria de um continente padece por bestialidades sem tamanho: fome, cólera, sede, cor... -. Nós não somos donos desse planeta e, por nossa sorte, ele parece não se importar com a nossa presença ‘extremamente ameaçadora’ – como ironicamente dizia George Carlin. Lógico que a preservação é algo necessário, mas é a prioridade? Quem quer viver para sempre é porque tem medo da morte e, se este for o TEU caso... Ah, te aconselho a nem cortar mais as unhas (pois não são biodegradáveis).

- Completa, por favor...
- Sim senhor!
Enquanto o frentista enchia o tanque do carro – comprado há muitos anos, cem por cento financiado -, o homem atrás do volante pensava na longa viagem que teria pela frente. Ele sabia bem que todos têm algum tipo de problema a ser resolvido – ninguém nunca está satisfeito com a vida que tem ou com as coisas materiais que tem na vida.
E enquanto o motorista pensava em seus problemas pessoais, o frentista abastecia o veículo pensando em quantas coisas pretendia ter um dia; Talvez um carro daqueles? (Só que de um modelo mais novo?).
O frentista fez a sua parte e retorna para conversar com o motorista:
- Quarenta e dois litros e meio. O senhor vai pagar a vista ou no cartão?
- Eu vou pagar com paz!
- Perdão, não entendo senhor.
- Paz! Desejo-te quarenta e três medidas de paz. Pode ficar com o troco.
- O senhor é louco? Não sabe que é o dinheiro que paga as nossas contas e não a paz? Afinal, o senhor comprou esse carro com dinheiro ou com paz?
- Com dinheiro... É claro. E não, não sou louco. Apenas vi em seus olhos o desejo demasiado em possuir coisas que somente o dinheiro pode comprar e, digo-lhe uma coisa: continue assim. Mas nunca se esqueça que sem paz um homem com dinheiro não encontra a satisfação depois das conquistas... Eu só quis lhe dar um presente. Mas é claro que vou lhe pagar o que te devo.
O motorista, sem pressa alguma, apanhou a carteira no bolso; de lá tirou uma quantia que equivalia a dez vezes o valor dos quarenta e dois litros e meio recém abastecidos, e entregou ao frentista, que olhava para ele e para o dinheiro perplexo.
- Não me agradeça – disse o motorista. – Eu dei dois bens necessários a você. Talvez um dia, você possa retribuir a alguém acrescentando um terceiro elemento.
E o homem misterioso ligou o carro. Logo em seguida foi embora rumo a sua viagem sem volta. Não houve nem um outro ponto de parada até o seu destino.

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