quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Diálogos #3

Depois de tantos e tantos séculos queimando, enforcando, estrebuchando, pelando o coro e ‘desalmando’ os princípios daqueles homens de fé (ou não) que simplesmente acreditavam em algo a mais (ou, apenas em suas próprias conotações sobre a existência), a formiga rainha que rege o ‘mandamento eterno-vigoroso’ através da libertação da alma (¿): aparentemente, se calou. Afinal, o avanço do moderno esmagou não apenas bases delirantes, errôneas e opressivas, mas, também, calcanhares sólidos e necessários para a continuidade plena e ampla dos indivíduos. A vida continua fácil (a morte circunstancial, ocasional, chocante...); Manter-se vivo é que se tornou um ato de teatro.

- Se não houvessem tantas leis não haveriam tantos delitos. O ‘homem’ só infringe aquilo que lhe é imposto como errado. Acredito apenas na liberdade. A justiça deveria se basear pela realidade e não por um apanhado de frases e artigos inventados e inseridos nos lapsos da população. A lei é mentirosa e injusta.
- Mas há essa necessidade. Estamos amparados em princípios, nos mandamentos divinos. Todos os demais acréscimos legislativos foram feitos apenas em função do bem, de defender a boa comunidade da atrocidade maléfica que sempre existirá.
- Ninguém é mau por natureza! Ninguém pode ser! O sistema corrompe a mente como a gordura que pára os corações. A maldade só existe quando ela é a substancia pela qual se extrai mandamentos ou leis. A palavra ‘NÃO’ nos insere a capacidade de discórdia acerca de nós mesmos... O decálogo peca, pois em sua maioria utiliza dessa palavra para dar sentido a vida das pessoas.
- Esse seu pensamento freudiano não vai levar a nada... Sinceramente. Você sabe que o sistema é apenas passível de ser corrompido, mas é praticamente infalível. Poucos pensam como você. Poucos, muito poucos, querem mudar radicalmente suas vidas; abrir mão de uma sociedade conhecida e lançar-se a pleno vapor (e vigorosamente) ao espaço em branco e desconhecido da auto-suficiência. Mesmo que o ‘NÃO’ vigore, ilusoriamente, como a lei suprema, a demanda de justiça está farta de indivíduos que a procuram todos os dias. É muito raro se ouvir falar em ‘justiça poética’.
- Meus ouvidos estão cansados e minha mente deserta para contra-argumentar. Só espero que ‘a fartura da balança’ um dia se dissolva. Quanto aos meus ideais, viro-me para o outro lado, pois nem tudo mais é como realmente dizem. A justiça além de ‘cega’, também é ‘surda’ – mas esse não é o maior defeito -, além disso, ela fala demais.
- Volte aqui! Ainda preciso de um homem que tenha viajado no tempo para me explicar questões sobre o clima do futuro, a água, o petróleo, as ações da Nasdaq e algumas dicas de apostas... Volte, não se vá!
Mas já era tarde e cedo. O homem sem tempo literal já havia partido para lugar nenhum em especial.

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