quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Diálogos #12

Liberdade, Igualdade e Fraternidade; Palavras que conotaram sentido em fins do século dezoito – e de certa maneira ainda o fazem até a atualidade. Mas, adentrando historicamente o assunto, o cenário a ser degustado oferece um vasto cardápio ocidental europeu de guloseimas e pratos principais: vapor, indústria, tecnologia, processo produtivo, capital... Elementos vagamente circunstanciais para se definir uma República (¿) – Afinal, o Reino Unido ainda gosta de ‘brincar de princesa e plebeu’ (desde que haja um parlamento, é claro). Mas, voltando ao assunto principal dessa discussão (que são as palavras que iniciaram esse parágrafo, e o sentido que elas traduzem); O que era a liberdade para um francês do ano de um mil setecentos e oitenta e nove? Ser livre era vagar pelas planícies, vivendo à custa do ar puro (separado pelo canal da mancha) enquanto uma nova forma de política (desconhecida) se instaurava? Não, liberdade significava apenas duas coisas: estar solto e sem rumo algum ou, preso temporariamente – na fila de espera de testes da ‘última geração de guilhotinas’. Já a igualdade é algo bem mais fácil de definir: todos eram, realmente, desiguais. O que importava era o sangue, o brasão, a posição política e, principalmente, de que lado o ‘igual’ estava antes do ‘agito todo começar’ - dependendo desses fatores o ‘igual’ tornava-se um ou outro dos modelos de ‘livre’. Já a fraternidade, essa sim, é a verdadeira palhaçada do discurso. Mesmo que as pessoas estivessem unidas pela mesma causa, jamais um burguês aceitaria – depois de todo o ‘furdunço’ – sentar-se a mesa e dividir o pão com um simples camponês maltrapilho e de mãos calejadas. Irmãos? Não... O que surgiu (mais ainda) e se fortificou (mais ainda) foram ‘grupos’, clubes e movimentos. O sentimento de fraternidade sempre foi uma incógnita para o cérebro humano; a palavra é ‘bonitinha’, mas a aplicação custa muito caro.
Resumidamente, desde o cortar / jorrar / sangrar (azul) e rolar de uma cabeça há, precisamente, duzentos e vinte um anos, a República (Res [coisa] – Pública [pública]) tornou-se o modelo mais ativo econômica e sociopoliticamente dentre os mais diversos territórios do ‘globo’ – alguns até tentaram resistir, mas acabaram cedendo casualmente ou pela ‘força’ (poucos se mantêm ‘outsiders’ realmente - alguns na prática definem-se uma coisa e na teoria como sendo outra). O conveniente e lógico é que passados mais de duzentos anos de guerras (por diversos motivos – que ainda acontecem), criações de leis, acordos, diplomacias... A ‘Coisa Pública’ ainda não aprendeu a ser pública, pelo contrário: a ‘Coisa Pública’ está cada vez mais em ‘posses misteriosas’ que com voz forte argumenta sobre ‘democracia’ ou ‘estamento’ (¿), adicionando, assim, novas palavras a serem dadas / interpretadas às massas que ainda não entenderam o sentido e o porquê não receberam nem as primeiras palavras que iniciaram a República (Liberté, Égalité, Fraternité).
Mas no fim, nem tudo é uma farsa. “Somos os filhos da Revolução” – como dizia Renato Russo. Nós não estamos perdidos só porque precedemos ao discurso que vai subverter com nós mesmos.

- Você tem fé no futuro?
- No amanhã, você quis dizer?
- Não... No daqui a cinqüenta anos! Ainda somos jovens!
- Nós somos jovens, mas nosso modo de vida já morreu e está se decompondo bem na frente de nossos olhos – fez uma pausa. - Mas para amanhã eu tenho planos.
- Nossa... como você é pessimista! – O planeta não está tão mal assim. Estes dias eu li um artigo que dizia, resumidamente, que os países mais poluentes do mundo assinaram um acordo para a redução de gases nocivos a camada de ozônio – deu um sorriso tímido. – Pode relaxar um pouco.
- Não é isso que me preocupa!
- O que é então?
- São as pessoas que nem você que acreditam que esse ato totalmente simbólico de assinar um papel vai salvar a humanidade.
- Ah... Seja pessimista, acredite no que você quiser. Eu tenho fé na ‘revolução’.
Ele se calou. O que replicar? A Contra-revolução? Não...



A expressão “República Democrática” assassina toda e qualquer fé no futuro.

A.A>