quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Diálogos #11

Meditar é encarar, literalmente, o nosso alter ego. Em circunstância, não é um ato de fuga da realidade – já que a imaginação pode ser definida como uma ação desolada que usa de preceitos reais para se formar / forjar. O ponto ‘doloroso’ da psique humana é a condição de transtorno de personificação; quando o ego e o alter ego passam a se comunicar de maneira imprecisa e indelicada: nomeando a imaginação como ‘general’ no comando de princípios básicos para a retórica com o mundo exterior. Em outras palavras, encontrar-se pode custar sanidade, já que, nos tempos atuais, devemos é encontrar a subsistência antes de qualquer outra coisa – mesmo que essa outra coisa seja, ou aparente ser, mais importante. Portanto, nossos pensamentos devem ficar no antro de uma lista de tarefas, pois as prioridades seletas do ‘viver bem’ já nos foram impostas, e pensar acerca delas, além de perda de tempo, é falta de maturidade.
O sistema no qual somos lançados é quase perfeito e, basicamente, nos oferece apenas duas escolhas; a de viver intensamente e correr todos os riscos ou, a de viver modestamente e, mesmo assim, correr todos os mesmos riscos. Mas, infelizmente, quanto a nossos moldes de lançamento: estão quebrados e furtivos.

- Bem vindo ao umbral, peça de reposição número dois bilhões quatrocentos e trinta e sete mil e um. Sua principal atividade será a de relatar – via diagnóstico falado – a evolução da teoria do caos. Compreende?
- Tec, toc, tac, tuc, tic – respondeu o número dois bilhões quatrocentos e trinta e sete mil e um.
- Ichi... Mais um humano com problemas nos circuitos internos. Parece que a fala não é bem desenvolvida – virou-se até o superior e perguntou. – Descartar, senhor?
O superior analisou a aparência do molde, os barulhos de ‘tec, toc, tac, tuc, tic’, o número de registro e por fim disse:
- Não. Está completamente fora de ordem, mas ainda pode ser útil. Certa vez, vi um caso parecido em que, por descuido nosso, deixamos passar.
- O que aconteceu senhor? – Perguntou a subalterna curiosa.
- O humano virou um escritor, desses que não escrevem bem, mas que mexem com a cabeça dos outros. No final das contas, acabou saindo melhor do que a encomenda – fez uma pausa. – É, pode mandá-lo. Só não coloque isso nos registros. Pode não dar certo como antes.
- Sim senhor! – Respondeu a subalterna.

O número dois bilhões quatrocentos e trinta e sete mil e um foi enviado a terra, mesmo com defeito de fábrica. Nunca foi chamado para um ‘recall’ - nem nada do gênero. Na verdade, nem sabia que havia algo de errado – apenas sentia. Escritor de sucesso? *Não me faça rir*.

A.A>