Jenny acordou entediada. Em seu quarto fazia um
frio acolhedor, e lá fora o dia de sábado era o mais deprimente das últimas
semanas. Havia um sol tímido e um vento uivante que vinham pela fresta da
janela. Parecia que iria chover; “tanto faz” – pensava. Ela se levantou
forçosamente. Seu corpo já estava dolorido de tanto padecer na cama. Há muito
tempo Jenny só ponderava em levar o tempo, e tanto fazia se o tempo a levasse.
Era uma espécie de depressão, sem fundamento, sem sentimento, tristeza ou pena,
sem lágrimas, e, o pior de tudo, sem culpa.
O banheiro era uma das únicas
justificativas para ela se levantar. Esporadicamente, a garota abria a
bandeirola e dava uma olhada para o triste jardim coberto pelo mato e algumas
flores tristes, mas isso não fazia parte de nenhuma espécie de conjunto de sua
rotina. Às vezes ela comia pela manhã – quando sentia fraqueza por ter ficado a
noite inteira acordada assistindo ‘Arquivo X’ e imaginando David Duchovny
deitado ao lado dela sussurrando coisinhas estranhas e excitantes que a
fizessem esquecer um pouco da infelicidade de conviver com o que ela sabia.
Jenny estava visivelmente infeliz. Jenny parecia estar morta. A história de
Jenny estava mais enterrada que Martha, sua mãe. Seus amores mais perdidos do
que Ivan, seu pai. A vida de Jenny parecia um labirinto, perdida em meio a
milhares de pensamentos que herdara do passado. Vivendo um presente de sentido
análogo consigo mesma, já não acreditava em finais felizes; Ela era realista.
A.A>