terça-feira, 27 de julho de 2010

'ANDAIME'

Havia um motivo em especial pra que tudo aquilo parecesse estar reluzindo. Aquilo tudo se chamava olhar, o resto não tinha importância, o resto não sabia que existia, o resto não tinha por que existir.
O olhar que estava preso ao rosto de uma jovem, exalava vida própria; não era paixão. A vida em outras horas pra aquela moça sonhou em abandonar, como tudo o que sonha demais flutua e cai. O sorriso estrelado era só mais um motivo pra que o céu fosse o limite, mesmo que não houvesse o otimismo e, a razão da realidade estivesse tomada por algo inebriante. O canto da voz estava doce e desafinado como as pétalas de uma rosa que murcham a chegada do outono: era tudo ao mesmo passo, nunca se podia prever. Enquanto o sentimento que não se definia ficava a um passo do desgosto, ele mesmo se aproveitava de saudade e loucura, perdia a pureza da solução rítmica do andar; sonhava encanto e nostalgia: mas o sentimento não sabia.
- O que é real?
Aquilo tudo não passava de uma farsa creditada na verdade a qual todos queriam saborear. Aquilo tudo era a solução, um dia foi e, vai ser de novo. Não é mais o presente que dá a sensação de vida; para aquela jovem, a única esperança era não saber o que fazia.
- Somos como as estrelas – disse a quem perguntou -, brilhamos, mesmo que não nos reste existência. É um paradigma infeliz, ter a sorte de estar vivo; a certeza apenas dá a impressão de um passado. Você pode estar a um minuto do fim mesmo assim acredita que não é o seu. Pode ter morrido há um minuto e ainda não saber. O real é aquilo que acreditamos não existir enquanto nossos sonhos comandam a nossa existência.
Ela, num realce ‘putz’ e sem graça, afirma:
- Você disse tanto e não falou nada.
Ele, rapidamente retruca a afirmação:
- E você, tanto se pergunta e se esquece de responder. Não existe ‘o quê’ quando se quer responder a uma pergunta, existem ‘porquês’.
“Mudaremos de papéis então, agora eu lhe pergunto:”
- O que é andar?
Ela, sem nem mesmo pensar responder:
- É um verbo, uma ação!
Ele afirma positivamente com a cabeça – faz outra pergunta:
- Por que andar?
-Ela simplesmente responde:
- Oras, pra chegar a algum lugar!
Ele:
- Por que chegar a algum lugar?
- Acaso da ocasião, talvez – diz ela.
Ele a olha com desprezo e pergunta:
- Em algum momento você sentiu a necessidade de se perguntar ‘o quê’?
Ela responde:
- O quê?

O início da verdadeira história nasce no fim. Ele descansou os olhos, e pensou: “ela entendeu, já pode ser real”... Ele era o criador, o criador da verdade absoluta, que, algum tempo depois se arrependeu; e pensou: “como é que eu deixei que isso acontecesse?”
Desde então, muitos como ela caminham pelos andaimes enquanto poucos como ele, com remorso de terem ensinado o caminho: morrem.

Quem protagoniza essa literatura?
Quem protagoniza a sua vida?

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