domingo, 18 de abril de 2010

Eu não sou ninguém

Fui enganado!
Quando nasci, me deram o conforto de um lar,
deram-me um sobrenome ridículo.
Roupas apertadas, penduricalhos animados, chocalhos...
Alguns brinquedos.

Cresci e assisti a algumas brigas.
Entendi cedo que família é algo que facilmente se destrói.
Soube perceber o que o excesso de álcool faz na vida um homem,
e como uma mulher sem rumo escolhe o caminho fácil sem pestanejar.

Aprendi a viver sozinho!
Perdi meu medo do escuro quando o silêncio tomou conta da velha casa.
Virei moço cedo,
rapaz sem dono, sem lei, sem responsabilidade
– a não ser, a de se manter vivo.

Um dia me cansei.
Tentei suicídio, mas não da maneira convencional.
Consegui chamar a atenção que não queria, pois já achava tarde.
Repeti a dose de idiotice. E, desta vez, paguei um preço mais caro.
Ninguém passou a mão na minha cabeça,
e, foram poucos, realmente poucos, que me viram chorar.
A vida continuou.

Resolvi fazer o que gosto, num país onde o que importa é ter uma bunda bonita ou um dedo indicador de anel com brasão.
Me dei mal – não sei dançar conforme a música.
Mas continuo esperando,
esperando,
esperando,
esperando...
Réplicas:
Pras tantas perguntas que fiz.

Se meu tempo está se acabando!
Meu tempo?
O tempo quem sabe já tenha até passado.
Eu só sei que não sou ninguém.
E que, talvez, o mundo conspire contra mim,
fazendo-me pensar assim.

Admito, ó mundo real!
Eu não sou ninguém!
Mas eu te enganei; Sobrevivi ao veneno dessas doses cotidianas mutantes,
e por acaso,
encontrei a figurinha rara que há dentro de um pacote de salgadinho.




A.A>