terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Despedida Hun


Se eu pudesse viver outra vez, queria ter amado meus avós
Teria doado mais de meu tempo, mesmo que não precisassem
Teria pedido colo e ouvido as antigas histórias com maior atenção
Teria caminhado, lado a lado, me sentindo um ser mais humilde
Teria fingido que nunca os vi desenhando patas de coelho na páscoa ao invés de ficar acordado só pra ter a certeza idiota de que eles faziam isso
Eu mais criança, menos rebelde e onipotente
Acho que assim eu teria sido um filho, um pai e um marido melhor
Queria ter julgado muito menos os motivos e vivenciado muito mais as razões, os detalhes e as pequenas atenções que me foram dadas por meus pais, ao invés de ter criado um limbo de derrota e discórdia sobre tudo o que aconteceu
Queria ter dito a meu pai que ele fez o que podia e que eu entendia sua ausência
Queria poder olhar nos olhos de minha jovem mãe e dizer “eu te agradeço”, sendo eu capaz de caminhar sozinho, em paz
Se eu pudesse me aconselhar a jamais esquecer do que senti quando meus filhos nasceram, teria lutado muito mais por um mundo perfeito, próspero e gentil
Jamais teria dado tanto tempo para meus gostos, eu teria é dado todo esse tempo a eles
Teria brincado feito criança, ido ao parquinho, à montanha russa! Abnegado meus cansaços
O eu de hoje, forçaria esse eu de outrora a sorrir muito mais
Imploraria a esse meu passado pra que honrasse a dama de cabelos longos, deixando-a com menos do que todo o peso do mundo...
Esse eu de outra dimensão que nada disso teve e que tudo isso perdeu, não tem mais nada a dizer.

Al. Arz