quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Conto #1

"Tetas"

Quando eu era mais jovem, sempre acreditei que José seria o cara que, um dia, lideraria algum tipo de grupo em favor de alguma coisa pelo bem da humanidade, afinal, ele era mais velho do que eu e quase sempre aparentava ser mais inteligente e visionário; parecia saber lidar com todo e qualquer tipo de conflito casual ou criado de maneira despojada e, ao mesmo tempo, correta.
Eu me lembro de tantas e tantas vezes em que José, com destreza, era o fantástico saltador de muros altos em busca da bola de futebol. Outras vezes era ele o ‘grandalhão parede’ que defendia a mim e aos outros ‘raquíticos’ no colégio: José era o cara, e, foi o cara; até que as tetas ressurgiram definitivamente na ideologia do crescimento.
As tetas foram o começo de tudo. E “caramba”: José se interessava demais por elas. Depois dessa redescoberta, as bolas começaram a ficar alguns dias no gramado do vizinho – as peladas eram menos freqüentes. O resto da galera e eu – ainda sem acesso às tetas – não entendíamos muito bem o que estava acontecendo, mas percebíamos – nas ocasiões em que ainda víamos José – que ele parecia estar mais feliz... Tetas? Ué? Vamos lá também!
Mas não foi tão fácil! Minha mãe que seja testemunha: foi muito difícil! As primeiras tetas que eu vi tiveram que ser financiadas! O segundo par de tetas que eu vi eram uns dez anos mais velhos (do que as de minha mãe) e o terceiro... prefiro não comentar. Qual era o segredo de José?
Ele era bonito (mais do que o resto da galera), corpulento (mais do que o resto da galera), inteligente, ousado e blá, blá, blá... Mas, hoje, pensando com meus cabelos brancos vejo todos os adolescentes de doze anos muito parecidos. O segredo de José, não era nenhum segredo; era máscara. O cara que um dia eu tanto admirei em minha infância e adolescência só aparentava ser visionário e muito inteligente por causa das gomas de mascar (hábito que sempre observava nele). José, antes de reencontrar as tetas e as tantas outras coisas que o levaram a falência financeira e espiritual, era muito fã de bebericar doses destrutivas de conhaque barato... Por que ele nunca me ofereceu? Ué? Talvez ele fosse mesmo inteligente – Afinal, todos um dia conseguimos nossas tetas de um jeito ou de outro, não?
José fez o bem para a minha humanidade, e de outros mais.

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